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Fraudes do INSS podem ter relação com crédito consignado; entenda a suspeita da PF

As fraudes do INSS estão revelando cada vez mais novidades bombásticas, evidenciando uma teia de crimes cada vez mais elaborados.

As fraudes do INSS escancararam uma rede complexa de irregularidades envolvendo aposentados, associações e empresas do setor financeiro. Desde 2019, milhões de segurados do INSS foram alvo de descontos indevidos em seus benefícios, sob a justificativa de filiação a entidades que não conheciam.

O que parecia apenas um problema isolado se revelou, com o passar do tempo, um esquema de proporções alarmantes, que movimentou bilhões de reais. Isso prejudicou milhares de beneficiários do instituto, sendo 67% deles aposentados rurais.

A gravidade do caso chamou a atenção das autoridades e levou à deflagração de uma operação de grande escala, com repercussões políticas e institucionais. O escândalo colocou em xeque a transparência na gestão dos recursos previdenciários.

As fraudes do INSS mostraram ainda mais escândalos financeiros.
As fraudes do INSS mostraram ainda mais escândalos financeiros. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / bolsadafamilia.com.br

Fraudes do INSS podem ter ligação com empréstimo consignado

As investigações conduzidas pela Polícia Federal indicam que o esquema de fraudes do INSS pode estar diretamente associado à atuação de empresas de crédito consignado. Conforme apurado, essas empresas atuavam em parceria com entidades que promoviam a filiação de aposentados.

Essa suposta cooperação funcionava como porta de entrada para ampliar o número de filiados e, com isso, maximizar os lucros com mensalidades associativas. A prática acabou levantando suspeitas sobre a real motivação das filiações e gerou questionamentos quanto à legalidade das cobranças.

Além disso, documentos e contratos analisados pela PF mostram que os pagamentos feitos por essas entidades a empresas consignatárias ultrapassaram R$ 15 milhões. Duas empresas concentram as suspeitas: a HKM e o Balcão das Oportunidades, ambas ligadas a figuras que já atuaram em bancos.

No caso da HKM, o empresário Herbert Kirstersson Menocchi aparece como beneficiário de contratos firmados com a Cebap, uma das entidades investigadas. Tais contratos previam, inclusive, que as empresas envolvidas ficassem com a primeira mensalidade dos novos filiados e com 30% das demais.

Essa associação entre crédito consignado e fraudes do INSS evidenciou uma estratégia estruturada para explorar financeiramente os aposentados. Enquanto esses consumidores buscavam linhas de crédito em condições acessíveis, acabavam surpreendidos por filiações que nunca autorizaram.

A vinculação entre empréstimo e filiação criava uma falsa sensação de legalidade, dificultando a percepção do golpe. O uso de dados dos segurados para implementar descontos não solicitados intensificou ainda mais a crise de confiança no sistema. Por isso, a PF segue investigando.

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Como o esquema das fraudes do INSS funcionou?

O coração do esquema das fraudes do INSS consistia em filiar milhões de segurados a associações e sindicatos sem o devido consentimento. Essas entidades, por meio de convênios com o próprio INSS, conseguiam autorização para aplicar mensalmente descontos nos benefícios dos aposentados.

Desde 2019, a prática gerou arrecadações superiores a R$ 6,3 bilhões, distribuídas entre dezenas de associações. A facilidade com que esses convênios eram estabelecidos contribuiu para a escalada da fraude, que passou despercebida por anos.

As reportagens investigativas do portal Metrópoles desempenharam papel essencial para a descoberta do esquema. Publicadas a partir de dezembro de 2023, as matérias revelaram não apenas o aumento das arrecadações, mas também os processos judiciais enfrentados por essas entidades.

Com mais de 38 matérias citadas oficialmente pela PF, o conteúdo jornalístico fundamentou o inquérito que originou a Operação Sem Desconto. Essa operação culminou em mudanças relevantes no alto escalão do governo, como a exoneração do presidente do INSS e do ministro da Previdência.

Entre os principais alvos da investigação estão três entidades: Ambec, Unsbras (atualmente Unabrasil) e Cebap. Todas possuem diretores que mantêm vínculos familiares ou societários com empresários do ramo de crédito consignado.

A relação direta entre os dirigentes das associações e os donos das empresas beneficiadas reforça a hipótese de que o objetivo principal era lucrar com os descontos. Em muitos casos, o aposentado sequer percebia que estava sendo filiado, já que não havia qualquer autorização explícita para a cobrança.

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Números são assustadores

A dimensão financeira do escândalo das fraudes do INSS ultrapassa qualquer expectativa inicial e revela uma operação estruturada para gerar lucros em larga escala. Os dados analisados pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União mostram que mais de 6 milhões de segurados foram afetados.

As associações envolvidas movimentaram bilhões de reais com base em filiações questionáveis e descontos realizados sem autorização. Em apenas um ano, as mensalidades arrecadadas chegaram a R$ 2 bilhões, expondo o nível de exploração enfrentado pelos aposentados.

O caso da Amar Brasil, também conhecida como ABCB, serve como exemplo do volume financeiro movimentado no esquema. Essa entidade, assim como a Master Prev, possui dirigentes ligados ao empresário Américo Monte Filho, proprietário de empresas de crédito consignado.

A PF identificou movimentações superiores a R$ 320 milhões apenas em contas vinculadas à Amar Brasil. Parte desses valores foi direcionada a empresas que atuam como correspondentes bancários, o que reforça a suspeita de envolvimento direto com a venda de empréstimos vinculados às filiações.

Embora alguns dos investigados neguem qualquer irregularidade, os indícios coletados até o momento sustentam a continuidade das apurações. Advogados de defesa, como o que representa Menocchi, afirmam que suas empresas prestaram serviços legítimos e que sempre atuaram dentro da legalidade.

No entanto, os contratos analisados pela Polícia e os vínculos familiares entre os envolvidos indicam que o esquema foi planejado para obter vantagens financeiras a partir da fragilidade de uma parcela vulnerável da população. A complexidade do caso exige um desfecho rigoroso e transparente.

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