Extrema Pobreza em Famílias Chefiadas por Mulheres é Duas Vezes Maior que a Média, Aponta Estudo
Domicílios sob comando feminino registram taxas de miséria que superam 7%, enquanto a média nacional é de 3,5%; a concentração se acentua no Norte e Nordeste.
Apesar dos avanços significativos na redução da pobreza no Brasil, a desigualdade de gênero persiste como um obstáculo central no combate à miséria. Um estudo recente divulgado pela Agência Brasil, com base em dados detalhados do IBGE, revelou que a extrema pobreza é um problema muito mais grave em lares chefiados exclusivamente por mulheres, que respondem pela maior parte do público do Bolsa Família.
O levantamento aponta que a taxa de extrema pobreza (miséria) nessas unidades familiares se mantém em patamares alarmantes, atingindo mais de 7% do total. Essa proporção é mais que o dobro da média nacional, que caiu para 3,5% em 2024.
Desigualdade Estrutural e Sobrecarga
A disparidade é um reflexo da desigualdade estrutural que coloca barreiras à autonomia financeira das mulheres. Muitas dessas responsáveis não possuem cônjuges ou parceiros para dividir as despesas e a criação dos filhos, acumulando a jornada de trabalho (muitas vezes informal) e a responsabilidade total pelo cuidado da família.
O relatório do IBGE destaca que os fatores que contribuem para a alta vulnerabilidade são:
- Jornada Dupla/Tripla: Dificuldade em conciliar a busca por emprego formal com o cuidado dos filhos, limitando as oportunidades de renda.
- Informalidade: Maior inserção no mercado de trabalho informal, que oferece salários mais baixos e nenhuma segurança social.
- Concentração Geográfica: A extrema pobreza sob chefia feminina é particularmente intensa nas regiões Norte e Nordeste, onde os serviços públicos essenciais, como creches e escolas em tempo integral, são mais escassos.
O Impacto do Bolsa Família e a Necessidade de Complementos
Os programas de transferência de renda têm um papel vital na mitigação dessa situação. O Bolsa Família, que historicamente prioriza o pagamento do benefício à mulher chefe de família (quase 90% dos cartões estão em nome delas), garante o piso de R$ 600, além dos adicionais.
O Benefício Primeira Infância (BPI), que adiciona R$ 150 por criança de até seis anos, é crucial para combater a insegurança alimentar nessas casas, onde os custos com alimentação e saúde infantil são altos.
Contudo, a persistência de uma taxa de miséria tão elevada, mesmo com o benefício, indica que a transferência de renda não é suficiente isoladamente.
Soluções Além do Benefício
Especialistas e o próprio Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) têm enfatizado a necessidade de ações complementares para promover a verdadeira emancipação econômica dessas mulheres.
As prioridades incluem:
- Expansão da Rede de Cuidados: Investimento maciço em creches, escolas e centros de convivência, liberando as mães para o mercado de trabalho formal.
- Qualificação Profissional Focalizada: Oferta de cursos técnicos e profissionalizantes que garantam uma inserção em setores com melhores salários.
- Microcrédito: Linhas de crédito simplificadas e com juros baixos (como as oferecidas pelo BNDES) para mães que desejam empreender e sair da informalidade.
Sem políticas que ataquem a raiz da sobrecarga de trabalho e da falta de oportunidade, a alta taxa de pobreza entre famílias chefiadas por mulheres continuará sendo o maior desafio social do país.





