Governo vai bloquear orçamento para pagar de volta o dinheiro desviado pelo INSS; entenda
O governo anunciou que deve congelar o orçamento para ter dinheiro suficiente para ressarcir os segurados lesados pelas fraudes do INSS.
Uma das maiores fraudes da história recente do setor público brasileiro veio à tona com o escândalo envolvendo descontos não autorizados em aposentadorias e pensões do INSS. A chamada “farra do INSS” revelou a existência de cobranças associativas ilegais que afetaram milhões de segurados.
Estima-se que o prejuízo total tenha ultrapassado os R$ 6 bilhões, resultado de descontos mensais aplicados sem autorização dos beneficiários, como se fossem contribuições voluntárias a entidades associativas. A gravidade do caso não está apenas no valor desviado, mas na fiscalização.
Agora, o governo federal enfrenta uma pressão crescente para ressarcir os aposentados prejudicados, cumprir as regras fiscais e encontrar uma resposta política e orçamentária viável em pleno ano pré-eleitoral, o que pode afetar novas candidaturas.

Neste artigo, você vai ver:
Governo estuda bloquear orçamento para ressarcir segurados
Diante da gravidade das fraudes e da repercussão negativa, a equipe econômica do governo Lula discute a necessidade de contingenciar parte do orçamento para garantir o ressarcimento aos segurados do INSS, que estão esperando um pronunciamento.
A previsão é de que o bloqueio e o contingenciamento sejam anunciados oficialmente no dia 22 de maio, junto com o primeiro relatório de avaliação de receitas e despesas de 2025. Apesar de esse relatório normalmente ser publicado em março, o atraso na aprovação do Orçamento empurrou para maio.
O Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, e o Ministério do Planejamento, sob comando de Simone Tebet, já analisam cenários possíveis para equilibrar a necessidade de reembolso com o cumprimento do arcabouço fiscal.
Técnicos do governo defendem que o primeiro passo seja acionar judicialmente as entidades envolvidas nas fraudes, bloquear seus bens e tentar reaver os valores desviados antes de recorrer aos cofres públicos. Até agora, a Advocacia-Geral da União já solicitou o bloqueio de mais de R$ 2 bilhões.
Nesse contexto, o crédito suplementar surge como a alternativa mais rápida, embora limitada, já que só pode reforçar despesas previamente previstas na LOA. A liberação de valores dependerá de cortes em outras áreas, e os técnicos apontam que o impacto maior deve recair sobre o PAC.
Mesmo com essas restrições, a pressão interna para agir rapidamente tem aumentado, principalmente diante da proximidade das eleições de 2026. Há forte expectativa de que a Junta de Execução Orçamentária defina ainda nesta semana os caminhos a seguir.
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Datas de devolução já foram anunciadas?
Apesar da mobilização política e administrativa, o governo ainda não anunciou um calendário oficial para a devolução dos valores descontados indevidamente dos segurados do INSS. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, confirmou que o relatório de maio trará cortes e bloqueios.
Contudo, não garantiu que os recursos para ressarcimento estarão imediatamente disponíveis. Ele afirmou que a devolução ocorrerá, mas dentro dos limites do orçamento e com a responsabilização das entidades fraudulentas. O posicionamento indica cautela fiscal, mesmo diante da urgência do problema.
Segundo o governo, a prioridade é estruturar juridicamente o processo de reembolso e garantir que apenas os beneficiários de fato lesados sejam indenizados. Simone Tebet reforçou essa ideia ao afirmar que o uso de recursos públicos será avaliado caso a União precise complementar os valores.
O objetivo é evitar gastos fora do teto e impedir o uso político indevido da situação, preservando a integridade das contas públicas. Ainda assim, essa abordagem tem gerado críticas de setores que consideram a resposta lenta e insuficiente diante da dimensão da fraude.
Dentre as soluções debatidas, surgiram também propostas de abrir créditos extraordinários ou especiais para viabilizar os pagamentos. No entanto, analistas apontam que essas alternativas enfrentam barreiras legais. O crédito extraordinário só pode ser utilizado em casos de urgência imprevisível.
A fraude do INSS, embora grave, não se encaixa tecnicamente nessas condições. Já o crédito especial exigiria aprovação do Congresso Nacional, o que também dependeria de articulação política e poderia atrasar ainda mais o processo.
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Entendendo as fraudes do INSS e como afetaram os segurados
As investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União revelaram que milhares de segurados do INSS tiveram descontos mensais aplicados indevidamente como se fossem filiados a associações de aposentados.
O problema se agravou porque muitos desses beneficiários não tinham conhecimento de que estavam associados e sequer haviam autorizado qualquer desconto. A prática tornou-se um esquema nacional e operava com base em falhas nos sistemas de validação e controle da Previdência.
As mensalidades eram incluídas diretamente nas folhas de pagamento, sem necessidade de consentimento expresso. O caso culminou em mudanças imediatas dentro do governo. O então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado por decisão judicial e posteriormente demitido.
Pouco depois, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu demissão em meio à pressão política causada pelo escândalo. As medidas evidenciam o impacto institucional da crise e o reconhecimento da falha administrativa. Com isso, o governo suspendeu todos os convênios que permitiam esse tipo de desconto.
Apesar das ações emergenciais, os danos financeiros e emocionais para os segurados foram profundos. Muitos perceberam os descontos apenas após meses de prejuízo acumulado e encontraram dificuldades para contestar ou recuperar os valores.
Como o atendimento do INSS ocorre majoritariamente via aplicativo e telefone, milhares de beneficiários mais vulneráveis sequer conseguiram verificar ou denunciar as irregularidades. Diante disso, o ressarcimento e a reparação institucional se tornaram urgência não apenas fiscal, mas também social.
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